Professoras indígenas Kaingang
formação inicial, profissão docente e empoderamento feminino
DOI:
https://doi.org/10.22420/rde.v19i43.2407Palavras-chave:
Formação de professores/as indígenas, Ensino Superior, Mulheres indígenas, Gênero, EmpoderamentoResumo
Este artigo discute como professoras/professorandas Kaingang que estudam numa universidade pública sul-rio-grandense vivem e significam sua formação docente. Além das narrativas obtidas via entrevistas semiestruturadas individuais e grupais, foram analisadas fontes documentais, a partir dos estudos decoloniais latino-americanos, em diálogo com a epistemologia feminista, sobretudo a produção de pesquisadoras indígenas. As entrevistadas valorizam a formação docente em nível superior como espaço de empoderamento, construção de conhecimentos e relações sociopolíticas importantes para elas e suas comunidades, e vivenciam-na como experiência desafiadora. Entre os desafios citados por elas estão os conflitos decorrentes de opressões étnico-raciais, culturais e de gênero; dificuldades em conciliar estudos, vida profissional e criação dos/as filhos/as; exclusão socioeconômica e violações de direitos; além do distanciamento entre currículo acadêmico, cultura Kaingang e seus modos de produzir conhecimento, realidade que tensiona suas concepções sobre docência, educação escolar e o que/como ensinar nas escolas indígenas. O aperfeiçoamento institucional para garantia dos direitos indígenas, aliado ao diálogo intercultural dentro e fora da sala de aula, podem contribuir para o enfrentamento desses desafios.
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