Uma ficção biológico-conservadora: discursos de ódio contra as dissidências sexuais e de gênero e seus impactos na educação
DOI:
https://doi.org/10.22420/rde.v14i28.1099Palavras-chave:
Biologia. Ultraconservadorismo. Dissidências de gênero e sexualidade. Discursos de ódio.Resumo
A partir dos estudos de gênero de vertente pós-estruturalista, investigamos um conjunto de enunciados extraídos de artigos científico-biológicos, além de um conjunto de enunciados obtidos a partir de perfis do Twitter reconhecidos por seu posicionamento odioso em relação às experiências sexuais e de gêneros dissidentes, para discutir como os estudos científico-biológicos sobre experiências trans e manifestações do desejo não heterossexuais podem ser pensados como fontes de reverberação de discursos de ódio na atualidade. Nossa aposta é que esses discursos têm sido apropriados pelo ultraconservadorismo, especialmente o de cunho religioso, como mote para a assimetria de direitos, de proteção e exposição à violência, atuando, inclusive, na distribuição da precariedade a que os sujeitos da diversidade sexual e de gênero estão submetidos.
Downloads
Referências
BUTLER, Judith. Lenguaje, poder e identidad. Tradução de Javier Sáez e Beatriz Preciado. Madrid: Editorial Síntesis, 1997.
_____. Corpos em aliança e a política das ruas. Notas para uma teoria performativa de assembleia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
_____. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
_____. “Critically queer”. GLQ: a journal of lesbian & gay studies, Durhan, v. 1, p. 17-32, 1993.
_____. Vida precaria. El poder del duelo y la violência. Tradução de Fermín Rodríguez. Buenos Aires: Paidós, 2006.
_____. Quadros de guerra. Quando a vida é passível de luto? Tradução de Sérgio Tadeu de Niemeyer Lamarão e Arnaldo Marques da Cunha; revisão de tradução de Marina Vargas; revisão técnica de Carla Rodrigues. 1ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.
_____. Vida precária. Os poderes do luto e da violência. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.
CÉSAR, Maria Rita de Assis; DUARTE, André de Macedo. “Governamento e pânico moral: corpo, gênero e diversidade sexual em tempos sombrios”. Educar em Revista, Curitiba, v. 33, n. 66, p. 141-155, out./dez., 2017.
CURITIBA. Prefeitura Municipal. LEI nº 14681 DE 2015. Aprova o Plano Municipal de Educação – PME, da cidade de Curitiba. Disponível em: <https://goo.gl/d8AYCq>. Acesso em jan. 2018.
DORLIN, Elsa. Séxo, género y sexualidades. Introducción a la teoria feminista. Tradução de Victor Goldstein. Buenos Aires: Nueva Visión, 2009.
FAUSTO-STERLING, Anne. “The five sexes. Why male and female are not enough”. The Sciences, Nova Iorque, p. 20-25, mar./abr. de 1993.
_____. Sex/Gender: biology in a social world. New York and London: Routledge, 2012.
_____. Sexing the body: gender politics and the construction of sexuality. New York: Basic Books, 2000.
FISCHER, Rosa Maria Bueno. “O estatuto pedagógico da mídia: questões de análise”. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 22, n. 2, p. 59-80, jul./dez. de 1997.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: A vontade de saber. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.
______. A ordem do discurso. São Paulo: Edições Loyola, 2014.
LOPES, Maura Corcini. “Inclusão como prática política de governamentalidade”. In: LOPES, Maura Corcini; HATTGE, Morgana Domênica. Inclusão Escolar: conjunto de práticas que governam. Belo Horizonte: Autêntica. p.107-130, 2009.
MACCULLOCH, Malcolm. “Biological aspects of homosexuality”. Journal of Medical Ethics, Londres, v. 6, n. 3, p. 133-138, set., 1980.
MISKOLCI, Richard. “A Teoria Queer e a Sociologia: o desafio de uma analítica da normalização”. Sociologias, Porto Alegre, v. 11, n. 21, p. 150-182, jan./jun., 2009.
______. “Pânicos morais e controle social - reflexões sobre o casamento gay”. Cadernos Pagu, Campinas, n. 28, p. 101-128, jan./jul.,2007.
NATIVIDADE, Marcelo. “Homossexualidade, gênero e cura em perspectivas pastorais evangélicas”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 21, n. 61, p. 115-132, jun., 2006.
OWENSBY, Newdigate M. “Homosexuality and lesbianism treated with metrazol”. Journal of Nervous & Mental Disease, Filadélfia, v. 92, n. 1, p. 65-66, jul., 1940.
PELUCIO, Larissa; MISKOLCI, Richard. “A prevenção do desvio: o dispositivo da aids e a repatologização das sexualidades dissidentes”. Sexualidad, Salud y Sociedad, Rio de Janeiro, n. 1, p.125-157, 2009.
PEREIRA, Tamires Tolomeotti. Ciência, Fundamentalismo religioso e Diversidade. A apropriação de discursos científicos-biológicos para a produção de ódio e violência contra as sexualidades e gêneros dissidentes nas mídias sociais. Dissertação de mestrado. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2018.
RIBEIRO, Leonídio. “Ciência, homossexualismo e endocrinologia”. Revista Latinoamericana de Psicopatologia fundamental. São Paulo, v. 13, n. 3, p. 498-511, set., 2010.
SIERRA, Jamil Cabral. Homossexuais, insubmissos e alteridades em transe. Representações da homocultura na mídia e a diferença no jogo dos dispositivos contemporâneos de normalização. Dissertação de mestrado. Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2004.
_______. “Corpo, sexualidade e poder: a homossexualidade na mídia e as biopolíticas de prevenção contra a AIDS”. Textura, Canoas, v. 15, n. 28, p.111-128, mai./ago.,2013.
_______. “Identidade e diversidade no contexto brasileiro: uma análise da parceria entre Estado e movimentos sociais LGBT de 2002 a 2015”. Revista Anos 90, Porto Alegre, v. 26, p.1-14,2019.
SIERRA, Jamil Cabral; DAL'IGNA, Maria Cláudia. Parceria e governamentalidade: ferramentas para problematizar as relações socioeducacionais contemporâneas. Educação Unisinos, São Leopoldo, v. 3, n. 22, p.332-340, jul./set, 2013.
SILVERMAN, Daniel; ROSANOFF, William R. “Electroencephalographic and neurologic studies of homosexuals”. The Journal of Nervous and Mental Disease, Filadélfia, v. 101, n. 4, p. 311-321, abr.,1945.
SPITZER, Robert L. “Can some gay men and lesbians change their sexual orientation? 200 Participants reporting a change from homosexual to heterosexual orientation”. Archives of sexual behavior, Basiléia, v, 32, n.5, p. 403-417, out.,2003.
TREVISAN, João Silvério. Devassos no paraíso. A homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade. Rio de Janeiro: Record, 2002.
WILLIAMS, Edwin G. “Homosexuality: a biological anomaly”. Journal of Nervous & Mental Disease, Filadélfia, v. 99, n. 1, p. 65-70, jan.,1994.